Muito se fala sobre o potencial da computação quântica para quebrar os atuais sistemas de criptografia digital — e causar um colapso na segurança cibernética global.
De tempos em tempos, novas estimativas alarmantes ganham manchetes, como a mais recente, que sugere que quebrar o algoritmo RSA pode ser até 20 vezes mais fácil do que se imaginava. Mas o que isso realmente significa?
Keith Martin, especialista em segurança da informação na Royal Holloway University of London, reconhece a inquietação crescente: “A criptografia é a base da segurança digital moderna. Se ela for comprometida, desde bancos até redes Wi-Fi e criptomoedas como o Bitcoin podem estar em risco.”

Máquinas potentes ainda podem demorar
- Os computadores quânticos, de fato, já existem — mas ainda são rudimentares e limitados.
- A promessa de uma máquina com capacidade suficiente para comprometer algoritmos como RSA ou curvas elípticas continua distante.
- “Não há um único modelo de computador quântico; há múltiplas abordagens em desenvolvimento, todas enfrentando enormes barreiras tecnológicas”, lembra Martin.
O maior risco está na criptografia de chave pública, usada para estabelecer conexões seguras na internet e para criar assinaturas digitais. Já a criptografia simétrica, que protege a maior parte dos nossos dados, pode ser adaptada com relativa facilidade para resistir ao poder da computação quântica.
A incerteza, no entanto, é o fator mais relevante: “Ninguém sabe ao certo quando — ou se — computadores quânticos suficientemente potentes e confiáveis serão desenvolvidos”, afirma Martin. Ainda assim, ele alerta: em segurança, o ideal é pensar no pior cenário e se preparar com antecedência.
Com isso em mente, o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA (NIST) iniciou, em 2016, uma competição internacional para criar padrões criptográficos resistentes a computadores quânticos. Os primeiros resultados saíram em 2024, incluindo mecanismos de troca de chaves e assinaturas digitais pós-quânticas.

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Cronograma para evitar catástrofes
O Centro Nacional de Segurança Cibernética do Reino Unido já traçou um cronograma: grandes organizações devem mapear seus sistemas criptográficos até 2028 e concluir a transição para métodos pós-quânticos até 2035.
Segundo Martin, esse planejamento “mostra que não estamos diante de um apocalipse iminente, mas de uma mudança que precisa ser feita com responsabilidade e visão de futuro”.
Enquanto isso, o público em geral deve manter a calma e atualizar seus dispositivos conforme as melhorias forem implementadas. “Não entre em pânico. Agora é a hora de avaliar riscos e decidir os próximos passos”, conclui o professor.

A versão original deste texto foi publicada no The Conversation.