Mistério de rochas lunares magnéticas pode ter sido desvendado

Diversos estudos recentes sugerem que um grande impacto de asteroide foi o responsável por intensificar, temporariamente, o fraco campo magnético primitivo da Lua, explicando, assim, a estranha magnetização encontrada em algumas amostras trazidas pelas missões Apollo.

Segundo pesquisa publicada na revista Science Advances por cientistas do MIT, o choque gerado pela colisão poderia ter amplificado o campo até níveis comparáveis aos da Terra atual — um pulso intenso que durou cerca de 40 minutos, mas deixou registros permanentes nas rochas lunares.

A investigação parte do enigma de que certos fragmentos de regolito exibem sinais de terem sido magnetizados por campos de dezenas de microteslas, muito superiores aos estimados para o núcleo lunar em seus primeiros bilhões de anos.

“Embora haja evidências de um campo interno gerado por dínamo, ele seria de 50 vezes menos intensidade do que o terrestre”, explicam os autores Benjamin Weiss e Rona Oran. Para resolver a discrepância, eles combinaram simulações de impacto e de evolução de plasma.

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Investigação parte do enigma de que certos fragmentos de regolito exibem sinais de terem sido magnetizados por campos de dezenas de microteslas (Imagem: Dr K Kar/iStock)

Simulações em cima do mistério das rochas lunares magnéticas

  • No modelo proposto, um asteroide do porte daquele responsável pela formação da bacia de Imbrium atinge a superfície lunar, gerando nuvem de plasma que se expande e, depois, circunda o satélite;
  • Parte dessa nuvem segue para o lado oposto da Lua e, ao interagir com o campo magnético já existente, intensifica-o momentaneamente;
  • Simultaneamente, a onda de choque — análoga a um terremoto — faz com que minerais sensíveis registrem a nova orientação de seus spins atômicos, “como se um baralho de cartas fosse lançado ao ar em um campo magnético”, ilustra Weiss.

Essa síntese reúne elementos de hipóteses anteriores. Pesquisas de 2022 propuseram que movimentos gravitacionais no manto, causados pelo afundamento de cristais de titânio, poderiam ter acionado convecção e alimentado um dínamo intermitente.

Já um estudo de 2021 defendia que impactos menores deixaram marcas magnéticas sem envolver dinâmica interna do satélite. A nova abordagem do MIT une ambos os processos e incorpora o papel-chave do choque de impacto, como lembra o ArsTechnica.

Para testar a ideia, as simulações reproduziram tanto o cenário de colisão quanto a evolução do plasma resultante. Partindo de um campo inicial fraco — estimado em um microtesla —, os modelos mostraram que a perturbação teria elevado o magnetismo local para dezenas de microteslas, níveis compatíveis com medições laboratoriais realizadas em rochas lunares de 3,5 bilhões de anos.

O trabalho ganha respaldo em dados de orbitadores recentes e nas amostras trazidas pelas missões chinesas Chang’e 5 e 6, que confirmam a presença de um campo lunar primitivo, ainda que de intensidade modesta.

Contudo, para validar definitivamente a teoria, será necessário analisar fragmentos que combinem indícios de forte magnetismo e sinais de choque. Essa combinação costumava ser descartada pelas equipes das missões Apollo, pois rochas com deformações eram consideradas contaminadas.

Os pesquisadores depositam suas esperanças nas futuras expedições tripuladas do programa Artemis. Com o retorno de amostras ainda inexploradas, será possível buscar “assinaturas” específicas de choques de alta energia associadas a picos magnéticos.

No entanto, o cronograma e o orçamento da NASA enfrentam incertezas, embora as missões Artemis II e III permaneçam oficialmente programadas para a próxima década.

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Diversos estudos recentes sugerem que um grande impacto de asteroide foi o responsável por intensificar temporariamente o fraco campo magnético primitivo da Lua, explicando assim a estranha magnetização encontrada em algumas amostras trazidas pelas missões Apollo.

Segundo a nova pesquisa, o choque gerado pela colisão poderia ter amplificado o campo até níveis comparáveis aos da Terra atual — pulso intenso que durou cerca de 40 minutos, mas deixou registros permanentes nas rochas lunares.

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“Embora haja evidências de um campo interno gerado por dínamo, ele seria de 50 vezes menos intensidade do que o terrestre”, explicam os autores Benjamin Weiss e Rona Oran. Para resolver a discrepância, eles combinaram simulações de impacto e de evolução de plasma.

Rocha lunar troctolite 76535, coletada pela missão Apollo 17 (Imagem: Johnson Space Center/NASA)

Enquanto isso, o mistério dos cristais lunares persistirá como um lembrete de que a história primitiva da Lua ainda reserva surpresas — e que é preciso combinar geofísica, astrofísica e modelagem de alto desempenho para decifrar os registros antigos gravados em sua superfície.


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